quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Uma manhã de domingo


É muito bom lembrar da infância, com a memória jovem no frescor da idade madura.

Por Augusto Pattoli

Passeava pela casa de meia nos pés. Corria e deslizava pelo corredor frio. Sentia o chão de azulejos italianos em seus pezinhos, percebia que iria cair e retomava o equilíbrio. Segurava forte no batente da porta da cozinha e sentia o cheiro do bom tempero da comida da nonna Alice. Era especialmente denso o aroma do alho começando a fritura, levemente misturado com ervas colhidas nos canteiros do fundo de casa.

Voltava correndo e deslizava até a enorme escada de madeira em forma de caracol. Bem no primeiro degrau, olhava para cima e se encantava com o vitral colorido, que como um caleidoscópio misturava as cores do sol naquele lindo domingo.  Subia as escadas de gatinho, sentia nos seus joelhinhos a passadeira felpuda presa com hastes de metais dourados. Bem depressa num engatinhar compulsivo chegava ao final da escada, sem demonstrar cansaço, parava e escutava o som da opera La bohème, vindo do grande banheiro central. Levantava e caminhava em direção do som que ia ficando cada vez mais alto e se misturava com o cheiro do tempero da comida, que já estava no ar. Na porta olhava de baixo para cima e via o nonno Augusto fazendo a barba, e perguntava em italiano “Cosa fai nonno”.  Um olhar de sorriso afagava seu rosto com a alegria da manhã daquele domingo.

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