Por Augusto Pattoli
Passeava pela casa de meia nos pés. Corria e deslizava pelo
corredor frio. Sentia o chão de azulejos italianos em seus pezinhos, percebia
que iria cair e retomava o equilíbrio. Segurava forte no batente da porta da cozinha e sentia o cheiro do bom
tempero da comida da nonna Alice. Era especialmente denso o aroma do alho
começando a fritura, levemente misturado com ervas colhidas nos canteiros do fundo
de casa.
Voltava correndo e deslizava até a enorme escada de madeira
em forma de caracol. Bem no primeiro degrau, olhava para cima e se encantava
com o vitral colorido, que como um caleidoscópio misturava as cores do sol
naquele lindo domingo. Subia
as escadas de gatinho, sentia nos seus joelhinhos a passadeira felpuda presa com hastes
de metais dourados. Bem depressa num engatinhar compulsivo chegava ao final da
escada, sem demonstrar cansaço, parava e escutava o som da opera La bohème, vindo
do grande banheiro central. Levantava e caminhava em direção do som que ia ficando
cada vez mais alto e se misturava com o cheiro do tempero da comida, que já estava
no ar. Na porta olhava de baixo para cima e via o nonno Augusto fazendo a barba, e perguntava em italiano “Cosa fai nonno”. Um olhar
de sorriso afagava seu rosto com a alegria da manhã daquele domingo.
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