terça-feira, 8 de outubro de 2013

O trânsito de São Paulo é um retrato do egoísmo, falta de civilidade e senso público do brasileiro.





O brasileiro dirige muito mal! É um problema sério o trânsito no Brasil, não vejo como melhorar a situação a curto prazo.

Um taxista que é profissional do volante deveria servir de exemplo, pelo contrario, aqui ele dirige muito mal. Motoboys, ônibus articulado, carroceiros, bikes todos são péssimos no volante. Também me incluo nessa categoria sou brasileiro e grosso no volante.

Cansado de dirigir no trânsito maluco da cidade de São Paulo, levando fechadas, buzinadas e palavrões. Pensei em criar um post para o blog “Os Güelos” que mostrasse essa situação com pesquisas, depoimentos, etc..
Comecei a pesquisar na web e encontrei uma matéria fantástica escrita pelo Emílio Boechat. Quando li o texto entendi tudo, é isso, o Emílio captou a essência e botou pra quebrar.



Parabéns, Emílio seu texto é sensacional!


Por Emilio Boechat


Dirigir em São Paulo é um desafio. Isso para ser bem suave. O trânsito caótico e os incontáveis quilômetros de congestionamento são famosos no Brasil e no exterior. Mas não é a falta de investimentos em transporte público e novas vias, que torna o trânsito na capital paulista tão selvagem. É o próprio motorista. Na realidade, o trânsito de São Paulo é um retrato do egoísmo, falta de civilidade e senso público do brasileiro.

Acho que foi o antropólogo Roberto da Matta quem escreveu que o brasileiro possui duas éticas: a ética da rua e a ética da sua casa. Da porta da rua para fora, o brasileiro exige que as leis sejam cumpridas, abomina a corrupção e se choca com a cara de pau das autoridades e das pessoas que andam fora da linha. É, por assim dizer, um cidadão modelo e ciente dos seus direitos. Da porta de sua casa para dentro... Bem, aí é sempre possível dar um jeitinho: pagar um café para o guarda não lhe aplicar uma multa; tentar livrar o filho infrator de um delito; arrumar um emprego público para um parente privado e por aí vai. Mas como isso acontece em surdina, na porta da casa para dentro, é possível manter uma imagem ilibada da porta da casa para fora. 

Pois bem, nas ruas isso é impossível. Essa bipolaridade ética é escancarada. Dentro do seu carro, o brasileiro (e não apenas o paulistano, pois São Paulo está repleta de pessoas de todo o Brasil) se sente em casa para fazer todas as m... que ele está mais do que habituado a praticar, só que dentro de uma via que é pública e não o seu quintal. É um paroxismo que beira a esquizofrenia, onde todos acham que estão certos, quando fazem algo errado.  Um síndrome de Dr Jekyll e Mr. Hyde.

Repare: se você para antes da faixa para deixar um pedestre passar, a loira da SUV atrás de você vai buzinar feito uma louca quase exigindo que você atropele aquele cidadão, mesmo sendo prioritária a travessia de um pedestre sobre a faixa.

Pessoas que te cortam, sem dar seta (artigo de decoração); motoristas que ocupam duas faixas com suas Land Rovers; que não respeitam a preferência nas rotatórias; que nunca te dão passagem; que viram à esquerda ou direita na última hora; que jogam seus carros sobre os ciclistas;  prontos para buzinar ou te xingar porque você está andando na velocidade máxima permitida, enquanto eles estão bem mais rápidos é o usual. O brasileiro dentro do seu carro é um monstro. Ou melhor, mostra a sua verdadeira face.

E o desrespeito aumenta à medida que sobe o valor do carro que você conduz. É como se dirigir um carro importado lhe desse o direito de desrespeitar as leis, ter sempre a preferência, ocupar mais de uma faixa, parar em fila dupla e passar por cima de quem lhe cruze o caminho. Sim, a educação não é uma questão de condição social. Pelo contrário: no trânsito a elite brasileira mostra a sua face mais escrota.

Mas é claro que a falta de noção no trânsito não é um privilégio dos ricos. Quantas vezes uma Kombi velha não atrapalhou o seu caminho? Quantas vezes um motorista de ônibus quase destruiu o seu carro? Uma van lotada passou por você como se estivesse numa pista de kart? Quantas vezes surgiu um Monza velho parado no meio da via, provocando um longo congestionamento. Ou, te cortando perigosamente? “No meio do caminho tinha um Monza velho. Tinha um Monza velho no meio do caminho”. O sujeito sonhou em comprar um Monza quando o carro foi lançado. E ele conseguiu. Trinta anos depois! E você paga o preço. Porque se ele bater em você, o motorista não tem seguro, nem dinheiro para arcar com os prejuízos. Por isso, quando eu vejo um Monza velho, mantenho distância.

É claro, ainda temos os motoqueiros, para os quais nenhuma lei de trânsito se aplica, que escancaram igualmente o descaso das autoridades, quando inventam uma faixa que não existe: o corredor de motocicletas (que um dia já foi aquela linha branca que divide as pistas).

O trânsito em São Paulo é o caos não porque existam carros e motocicletas demais e transporte público de menos. Isso torna o trânsito difícil, sim. Mas o caos é gerado por motoristas selvagens, que não respeitam as leis e o próximo e que acham que a única culpa é das autoridades. Meu caro, ou minha cara, a culpa é sua.

Um comentário:

  1. Excelente artigo..
    Concordo com cada palavra..

    Eu moro em Guarulhos e aqui não está tão diferente de SP..

    Aliás a falta de educação não é apenas um problema regional..

    Aqui também tem monzas e Land Rovers...

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